Fala galera, tudo em cima!
"Escalar já não costuma ser muito fácil, pra alguns pelo menos...Agora junte um Big Wall clássico e com certo grau de comprometimento, peso de muito equipamento, comida, água e vá escalar a Domingos Giobbi...só que em solitário! Foi exatamente esta a proeza que o nosso amigo Márcio Faria aprontou, confiram o relato do próprio!"
Relato Domingos Giobbi em solitário, por Márcio Faria.
Sou um admirador da escalada tradicional, vias longas em
livre e Bigwall. Tenho além de admiração pela linha Domingos Giobbi, experiência nesta linha, e conhecimento de todas as estratégias desta
via. Então pensei em fazer algo diferente, por exigir comprometimento com a parede e todas as técnicas envolvidas nesse processo, resolvi escalar está linha em solitário!
Foto arquivo blog Rock Log |
Planejei a escalada para o feriado de Tiradentes e fui para São bento, chegando por volta das 19:30. Ja em casa no paiol grande, finalizei toda a carga do haulbag, com equipamentos, 8lts
de água, comida e portaledge.
Devido ao peso de todo o equipamento, fui de carro até o inicio da trilha no Bauzinho, deixei as coisas por ali, e voltei para deixar o carro no estacionamento, voltar a pé e seguir em direção ao Col. Fiz o rapel para meu bivaque que seria no platô
exatamente na base da via gregos e troianos, as 23 horas já estava dentro de
meu saco de dormir descansando para meu próximo dia.
No dia seguinte acordei as 5:30 fiz um
breve lanche e fui para à aproximação da base da Domingos Giobbi. Me aprontei
e dei início a escalada em solitário, acessando o platô pela via das abelhas, pelo motivo de que o primeiro diedro da domingos ser moradia de muitos marimbondos. Chegando no platô fixei minhas cordas de guiada e voltei para a base para fazer a limpeza e prender a carga. Na escalada
solo você tem três trabalhos: 1° escalar, 2°limpar toda a guiada e 3° puxar sua
carga.
Dando continuidade do Platô para P2, esse lance é classificado em A2
escalada tranquila em camalots, Tcus , cliffs de furo e agarras. A escalada
seguinte para P3 é um pouco mais lenta por ser em A2+, escalada delicada em sequências de inúmeras
peças móveis e uma sequência de 5 furos de cliffs. Ao chegar na P3 me dei conta
em reparar no relógio como estava muito rápido e adiantado, era exatamente 13h ,
voltei para P2 para liberar a carga e iniciar a difícil limpeza na diagonal dos
tetos.
Foto arquivo Marcio Santos. |
Neste trecho, tive um problema com um nut #7 que emperrou no teto e meu martelo estava
dentro do haulbag liberado e pendurado no vazio, tive que ir até a parada
puxar a carga pegar o martelo e voltar
para a retirada do nut emperrado, primeiro perrengue resolvido.
Minha méta do
dia era dormir na P3, resolvi seguir em diante para P4 e já adiantar a escalada
do dia seguinte, chegando na parada fixei as cardas deixei o excesso de tralhas
como mochila água e equipos e voltei para limpeza com apenas uma lanterna no
bolso.
Chegando de volta na P3 liberei o
haulbag junto com o portaledge e iniciei o processo de limpeza da diagonal,
logo descobri a merda que tinha acabado de acontecer, ao esticar a corda que estava
com uma barriga ela passou por baixo do haulbag e pescou juntamente com o
portaledge, assim enroscada e puxando o bag de ponta cabeça (merda feita). Eu
ali isolado na P3 apenas com uma lanterna no bolso olhando o problema do lado
esquerdo e o sol se pondo no lado direito, é nestas horas que colocamos a
cabeça pra pensar e imaginar quais soluções me restam no momento.
Tomei a
atitude de fazer rapeis na diagonal e ir buscando a próxima chapa, assim fazendo
um outro rapel, em seguida assim conseguindo alcançar a carga e dando início a
solução do meu problema. Fiz um nó UiAA com o restante da corda, e ao soltar a carga, recebi um enorme "tranco" devido o peso.
Pronto perrengue resolvido ,dei continuidade a
limpeza da guiada e já era início da noite, cheguei na P4 por volta das 18:30 e
montei meu portaledge onde iria passar a noite e descansar. Em seguida saiu um
grito de missão cumprida, depois de um dia intenso de trabalho iria descansar
meu corpo cansado.
A noite estava linda, lua cheia sem nenhum vento para me
incomodar apenas aquela vista linda das silhuetas das montanhas no horizonte,
dava pra reparar em muitos detalhes por toda rocha iluminada pela luz da lua, o
bauzinho estava muito iluminado assim como a mata lá em baixo um visual incrível
noturno.
Um pouco antes antes do amanhecer, eu já estava desperto, por
volta das 5:00 da manhã. Como já estava super adiantado esperei o dia amanhecer
e reparar na beleza do sol nascendo no horizonte, tranquilamente tomei meu café
da manhã e em seguida desmontei o portaledge e organizei os equipamentos
necessários para ataque ao cume faltando apenas duas cordadas.
Conforme minha estratégia, deixei parte da carga fixada na P4 e iria para o cume sem arrastar esse peso
buscando na volta acessado pela normal facilitando meu ataque e agilizando, por
se tratar de uma diagonal muito extensa da P5 para última P6.
Equipamento todo organizado dei início a
escalada bem ágil e rápido, estas duas cordadas foram bem rápidas um A2 e um
A2+ sem muito trabalho, na última cordadas na metade da guiada em diante acaba
o artificial e inicia se um 5 sup lindo com toda exposição que aquela parede
imponente te proporciona, diversão garantida pra fechar o dia do solitário.
Chegando
no cume as 9:30 liguei para alguns amigos contando sobre o feito com sucesso e
super agilidade, ao desligar o telefone me preparei e voltei para P5 e dar
continuidade a última limpeza do dia tranquila e sem nenhum perrengue. O trabalho não tinha acabado por aí, dei
continuidade e retornei pela a normal do bau para resgatar minha carga (portaledge e haulbag). Já com a carga resgatada finalizei o rapel para o platô do col e me preparei pra ir embora.
Retornei toda trilha até o estacionamento com o bag nas costas e portaledge apoiado na nuca, e finalmente as 14h
estava em casa tomando minha cerveja e comemorando o meu feito com sucesso.
Relato : Márcio Faria dos Santos
Bigwall em solitário no dia 21/04/2016
Abraços e boas escaladas!